Dialogo
entre Alsibar e Leia
Alsibar : Ok, A
Leia é, a meu ver, uma das poucas pessoas realmente iluminadas desse Brasil- no
sentido dado por Krishnamurti. Faz apenas dois anos que ela começou sua busca
espiritual e um ano que conversamos bastante sobre Krishnamurti e seus
ensinamentos. Sempre que possível, trocamos ideias e ela me fala sobre seus
insights. Nesse diálogo, conversamos sobre a questão do apego e também sobre a
desmistificação da “ iluminação”. Vale a pena conferir!
Alsibar
- Olá Leia bom dia, tudo bem?
Leia-Tudo
bem graças a Deus! Ontem tive um “insight” a respeito do apego, que vou
compartilhar contigo: o que liberta a mente não é o desapegar da coisa apegada
mas o entendimento, a compreensão do porquê alguém se
apega. De fato, é o medo de “não ser". Medo do vazio. Isso me
trouxe um relaxamento, um silêncio muito profundo!
Alsibar
-Lindo! É exatamente isso!
Leia
- Engraçado que você só observa que se apega e a luta termina.
Alsibar
-Yes! Cessa o conflito.
Leia
-Eu achava que a libertação seria você estar desapegado de tudo, só que não é!
É quando você se conhece de verdade e não pode fazer nada a
respeito!
Alsibar
- Sim, porque cessa a luta.
Leia
- Só que nisso está a grande mudança: a “não ação”! Jesus ! Um “vazio” imenso
se abre sem luta.
Alsibar
- A luta sustenta mais ainda aquilo do qual você quer se livrar.
Leia
- Simmm! Exatamente! Não tenho mais controle nem memória de nada... me perdendo
de mim!
Alsibar
- Leia... Você já mergulhou.... E assim como eu, Jesus, Krishnamurti, UG, Vimala,
ou qualquer outra pessoa, você vai se aprofundando cada vez mais. Você vai
chegar no estágio de completo desapego. E só terá o apego funcional. O que
seria o apego funcional? O necessário pra você viver e lidar com as questões
práticas da vida .
Leia
- Entendo sim: necessidade básica de sobrevivência.
Alsibar
- Exatamente! Foi essa a 'jogada de mestre' que JK fez com o Raja Gopal. Ele
não esperava que K o processase para reaver seus bens e direitos. Você entende
mais ou menos xadrez?
Leia
- Não (rs)
Alsibar
- Tem a jogada do cavalo. É, tipo, uma jogada imprevisível e inesperada. O Raja
nunca imaginou que JK fosse demonstrar apego às coisas materiais. E aí foi que
ele quebrou a cara. Esse é o apego funcional. Ele tem uma razão , um sentido...
Leia
- Humm...entendi! Acordei ontem pensando num vídeo do Krishnamurti em
que ele fala de religião e meditação e, à tarde, assisti
ele por três vezes. Parecia que algo dentro de mim queria repetir o vídeo até
que a ficha “caiu”.
Alsibar-
Então, não é um simples apego... Mas um apego “necessário” em prol
de uma razão maior.
Leia
– Simm!
Leia
- Apego que não
traz conflito, nem sofrimento! Muito diferente deste que falamos.
Alsibar-
Isso mesmo! Não traz porque é movido por uma razão maior. Não é um simples
capricho do ego.
Leia
- Entendi.
Alsibar
- Vou dar outro exemplo: o seu trabalho. Você precisa dele. Então tem que
amá-lo e protegê-lo. Precisa ter esse 'link' com ele.
Leia
- Sim! Amo minha vida ali. Fico um dia sem trabalhar hoje e já quero ir pra
cozinha. rs
Alsibar
- Porque ele é uma fonte de prazer e sobrevivência.
Leia
- Amo mesmo! Não é “trabalho”!
Alsibar-
Leia, a propósito, você tem noção de quanto tempo faz que nós
conversamos?
Leia
- Bom, comecei a busca faz 2 anos. Faz 1 ano que a gente começou a conversar.
Antes completamente dormindo.
Alsibar
- Sim! Foi a minha previsão também. Então... Mesmo contabilizando os dois
anos...Pra algumas pessoas isso parece impossível! Mas defendo a tese de que
isso é relativo e depende de cada um.
Leia-
No meu caso, eu tinha uma
intenção profunda. Reflexão dia e noite. Não parei um segundo até compreender.
Alsibar
- Sim, eu também tinha. Mas você levou dois anos pra chegar a uma
compreensão que levei a vida toda rs.
Leia
- Acho que essa intenção vai abrindo as portas do entendimento.
Alsibar
- Então qual o diferencial? Tem gente que não acordará nessa vida por mais que
pareça tentar. Outras levarão muitas...
Leia
- Verdade! Talvez por serem muito fechados, no fundo não querem mudar. Quem
quer mudar não desiste.
Alsibar
- Bom.... É isso também! Que é o que chamam de “carma”. Carma é o que você é:
seus pensamentos, sentimentos e atitudes. Se você é arrogante, orgulhoso,
duro.... Esse é o teu “carma”. Porque ele fecha os teus caminhos de
crescimento. Ou seja, você MESMA se fecha . Mas aí tem um fator secundário, mas
não menos importante: o LIXO DE CONHECIMENTO ACUMULADO!
Leia - Sim! A própria pessoa é
seu carma. Ela cria sua própria “caixa”.
Alsibar
- Exatamente. Por exemplo, a minha “caixa” era pesada e cheia de tralhas. Levei
anos pra limpá-la.
Leia
- A de todos nós...
Alsibar
- Mas a sua
tinha pouca coisa em comparação com a minha. A sua só tinha o Joel
Goldsmith que eu me lembre. E parece que teve contato com as coisas do Hélio Couto.
Leia
-Mas acho que tinha também porque foram dois anos doloridos... Não foi fácil...
Tinha dias que a sensação era a de estar arrancando a pele.
Alsibar-
Mas estou me referindo especificamente às tralhas do “conhecimento”, das
leituras nesse campo. Por exemplo, você não conhecia o Osho, nem o Advaita, ou
o Gurdjieff. Esses conhecimentos que, a meu ver, mais atrapalham do que ajudam.
Porque dão margem à interpretações equivocadas, inflam o ego na
medida em que fortalecem a ilusão do “saber”. Obviamente que você tinha suas
questões pessoais a serem resolvidas. Mas não tinha a ilusão e a prepotência de
que já sabia o caminho. Pelo menos, não tão forte como a maioria dos tais
“espiritualistas” modernos.
Leia
- Realmente não tinha. Não li ninguém. Nem um livro sequer. Só vi vídeos do JK
e os seus. O K foi tudo!
Alsibar-Pois
é disso que falo. Estou falando das tralhas do conhecimento livresco. Alguns
confundem e até desvirtuam as pessoas.
Leia
- Sim, egos guiando egos.
Alsibar
- Por isso continuo meu trabalho . Tentando esclarecê-las, avisá-las. Osho não
é JK. Tolle não é JK. Zen não é JK. Advaita não é JK. Gurdjieff não é JK.
Leia
- Não sei nada desses daí. Rsrs. Realmente K é único. Fiquei só nele
, ali já tinha tudo.
Alsibar
– Lamentavelmente , as pessoas tendem a botar tudo num saco só e acabam ficando
perdidas. Que foi o que eu também fiz.
Leia-
Sim ! K não escondia nada. Mandava a “real” na cara da gente. A verdade sobre o
que realmente somos.
Alsibar
- Então, quando eu quebrava a cara com Osho, eu pedia a Deus uma luz.... E meu
coração me levava ao K. Depois foi com o Gurdjieff... novamente Deus me apontou
o “K”.
Leia
- O primeiro vídeo do K me pegou de primeira...
Alsibar
- Porque você não tinha o lixo do “ conhecimento acumulado”.
Leia-
Algumas pessoas me perguntaram : como você consegue ouvir
esse velho estranho?
Alsibar
- Pois é, sua mente estava fresca, nova, não contaminada. Que é o estado mental
que JK insistia que as pessoas estivessem ao ouvi-lo.
Leia
- Fui “direto ao ponto”, não tinha muita bagagem. Hoje percebo o “falso”
facilmente.
Alsibar-
Essa “bagagem” ao invés de ajudar, atrapalha. Ela é muuuuuuito pesada pra
muitas pessoas e o pior é que elas se identificam com a
bagagem e aí ficam confusas.
Leia
- Porque a confusão aumenta o conflito.
Alsibar-
Sim, mas por que elas se identificam? Porque isso lhes dá um sentido de
superioridade e prazer. E não percebem que é o ego que está se fortalecendo
nisso tudo.
Leia
– Simm, muita coisa só alimenta o ego.
Alsibar
- E o resultado final? Dor e sofrimento pois ficam presas em suas próprias
teias egóicas.
Leia
- Graças a Deus agradeço por ter despertado um pouco pelo menos porque quando a
gente se conhece, conhece o mundo. Na compreensão de como eu" funciono”
compreendo o outro. A liberdade nada mais é do que parar de brigar com tudo o
que sou.
Alsibar
– Isso. O meu caso foi muito específico e às vezes procuro entender por que ele
foi tão demorado e penoso. E aí me vem a resposta: como eu poderia fazer esses
paralelos e esclarecer as pessoas sobre esses equívocos se eu mesmo não tivesse
passado por eles?
Leia-
A gente acha que vai se libertar primeiro e só depois sentir paz plenitude. Só
que não. Sou “isso”. FIM! Mas é muito relaxante. É o descansar,
apaziguar a mente.
Alsibar
- E aí, quando digo que conheço uma “iluminada” ninguém acredita. rs
Leia
- (rsrs) Não me sinto assim! Estamos todos no mesmo barco. Só me compreendo um
pouco mais e parei de “brigar” comigo mesma.
Alsibar
- Óbvio que não sente. Se sentisse não seria. Por mais que dissessem a JK que
ele era Iluminado ele não se sentia. O mesmo com o UG. O Iluminado nunca sente
que seja. E essa é a marca das mentes Iluminadas. Isso quando o sentimento é
sincero, óbvio.
Leia
- Acho que tem muita carga
em cima desta palavra “iluminado” porque é só o fato da pessoa se auto
conhecer, mais nada. As pessoas criam a ilusão de que o
iluminado é algo a mais que os outros. Há uma espécie de endeusamento. Apesar
da luz do entendimento, continua tudo igual.
Alsibar
- Sim. Autoconhecimento é
Iluminação. Essa palavra está muito carregada sim. E por isso que esse
movimento iniciado por JK não pode terminar. Exatamente pra “desmistificar” o
termo. E trazê-lo ao seu real sentido. Uma vez que ninguém se torna mais ou
melhor do que ninguém. Apenas passa a sentir paz, alegria, amor,
compaixão, felicidade.
Leia
-Sim. Felicidade não
produzida, mas que surge espontaneamente da ausência do conflito. A
paz sempre esteve ali. Quando cessa a “briga interna” ela toma espaço.
Alsibar
- Isso não torna ninguém um “santo”, superior ou melhor do que ninguém. Nem
mesmo “autoridade”. Porque se ela se sentir autoridade, então a mutação não
aconteceu.
Leia
- Óbvio. Pois quem se conhece mesmo a fundo não vê ninguém diferente de si
mesmo
Alsibar
– Isso.
Leia
- Lembra que uma vez te perguntei se conhecia algum iluminado no Brasiil?
Naquela época eu ainda não tinha entendido nada.
Alsibar-
Ainda bem que eu não conhecia. A propósito, ontem vi um vídeo em que o Bohm
pergunta ao K se o iluminado sente a dor e o caos do mundo. E ele responde,
meio embaraçoso: é claro que sim! Logo depois ele “tira de tempo” e
fala de uma outra forma a mesma coisa.
Leia
- Sim, é verdade. O mesmo sofrimento meu é o do mundo, mas o mundo ainda luta.
E a gente sente compaixão porque não há nada que possamos fazer.
Alsibar:
Isso. Foi nessa mesma linha de raciocínio. Mas o que
você pode você faz-dentro das suas capacidades e limitações.
Leia
- Sim, porque quando alguém recebe a luz do entendimento já benefícia toda a
consciência humana. Não é algo individual, só da pessoa.
Alsibar:
Isso mesmo! Algumas pessoas pensam na Iluminação como um estado de graça e
perfeição....algo místico, etéreo e distante. Como se a pessoa fosse viver numa
eterna bolha protetora, livre dos desafios e problemas práticos.
Leia
- Simm. Essa visão leva muita gente a buscar a iluminação nesse sentido aí.
Alsibar
- Mas é exatamente no dia a dia que o Iluminado encontra a energia e o sentido
da vida. Antes era só conflito, dor e confusão. Depois é paz, amor, alegria,
êxtase e muitos desafios.
Leia
- Verdade! As situações que antes causavam conflito passa ser simplesmente a
vida acontecendo. Não ficam marcas depois!
Alsibar
– Exatamente! Você resolve tudo o que pode ser resolvido. De uma forma que
antes seria impossível de imaginar. As “graças”, as bênçãos, a inteligência,
os insights, as intuições e soluções que de repente chegam “do
nada”, tornam a vida muito mais emocionante significativa e plena. E tudo vai
fluindo como numa dança cósmica.
Leia
–Sim, recebo tudo que vem como uma “graça”.
Alsibar
- E aí é só alegria de ver esse movimento divino acontecendo. E você se
deixando levar... E também agindo quando precisar, claro.
Leia
- Sim, e tem esse silêncio que de repente tá ali e você não quer
tocar pra não estragar (rs)
Alsibar
- Exato . Você sabe que tem que deixar quieto porque se tocar ou até mesmo
“olhar”- pode estragar, ao criar uma “onda” de turbulência.
Leia
– Verdade. Era a briga, a busca, o “vir-a-ser” que faziam barulho. Só
isso já maltrata demais neh? Como esse mundo sofre.
Alsibar
– Sim, muito. Muito mesmo pois do conflito interior nascem todas as outras
desgraças do mundo: depressão, angústia, raiva, violência, ambição, guerras de
toda espécie. Porque sem paz não há amor, nem compaixão.
Leia
– Sim, por que a pessoa joga no mundo o que tem por dentro. Então o mundo sou
eu.
Alsibar
– Isso! A paz interna marca o início da compaixão. Na paz o amor transborda!
Leia
- É o que sinto também por algumas pessoas. Muita compaixão porque entendo como
elas funcionam. Por isso que Jesus deixou-se prender na cruz, sem luta. Essa é
a “não-ação” que atua sobre o mundo. Isso surge quando a gente
entende todo esse processo.
Alsibar
– Isso mesmo!
Leia
- Obrigada Alsibar, por tudo mesmo! Que a tua luz continue alcançando mais
mentes!
Alsibar
: Ok, eu que agradeço pela conversa muito produtiva. Abcs!
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