💕 Relacionamento é Um Mistério

 

 

💕 Relacionamento é Um Mistério

 

   E, por existir entre duas pessoas, depende de ambas. Sempre que duas pessoas se encontram, um novo mundo é criado. Justamente pelo encontro, um novo fenômeno vem à existência — o qual não existia antes, o qual nunca existiu. E através desse fenômeno, as duas pessoas são mudadas e transformadas. 

    Não-relacionado, você é de um jeito; ao se relacionar, imediatamente fica diferente. Uma coisa nova aconteceu. Uma mulher, quando se torna uma amante, não é mais a mesma. Um homem, quando se torna um pai, não é mais o mesmo. Uma criança nasceu, mas não compreendemos um dos ângulos, de modo algum — no momento em que a criança nasce, a mãe também nasce. Ela não existia antes. A mulher existia, mas a mãe, nunca. E uma mãe é algo totalmente novo.  O relacionamento é criado por você, mas, por sua vez, ele também o cria. Duas pessoas encontram-se, isto significa que dois mundos se encontraram. Não é algo simples — é muito complexo, é o que há de mais complexo. Cada pessoa é um mundo em si mesma — um complexo mistério com um longo passado e um futuro eterno.  No começo, apenas as periferias se encontram. Mas, se o relacionamento cresce intimamente, se fica mais próximo, mais profundo, então, pouco a pouco, os centros se encontram. Quando os centros se encontram, isto é chamado de amor.  Quando apenas as periferias se encontram, há uma familiaridade. Você toca a pessoa pelo lado de fora, só no contorno, então, fica familiarizado. Muitas vezes, você começa a chamar essa familiaridade de amor. Então, entra numa ilusão. Familiaridade não é amor.  O amor é muito raro. Encontrar uma pessoa em seu centro é passar por uma revolução em si mesmo, porque se você quiser encontrar o centro do outro, terá de permitir que o outro também chegue ao seu centro, Terá de tornar-se vulnerável, absolutamente vulnerável, aberto.  É arriscado. Permitir que alguém chegue ao seu centro é arriscado, perigoso, porque nunca se sabe o que essa pessoa fará. E quando todos os seus segredos forem conhecidos, quando o que está oculto tornar-se visível, quando você tiver se exposto completamente, o que essa pessoa fará, nunca se sabe. O medo surge. Eis porque nunca nos abrimos.  Basta uma familiaridade, e pensamos que o amor aconteceu. As periferias encontram-se, e pensamos que nós é que nos encontramos. Você não é a sua periferia. Na verdade, a periferia é o limite onde você termina, apenas a cerca ao seu redor. Não é você! 

    Até mesmo os maridos e esposas, que viveram juntos por muitos anos, podem ser apenas familiares. É possível que não tenham conhecido um ao outro. E quanto mais você vive com alguém mais se esquece de que os centros continuam desconhecidos.  Portanto, a primeira coisa a ser compreendida é: Não tome a familiaridade por amor. Você pode fazer amor, pode estar sexualmente relacionado, mas o sexo também é periférico. A menos que os centros se encontrem, o sexo é apenas um encontro entre dois corpos. E um encontro entre dois corpos não é um encontro. O sexo também permanece na familiaridade — física, corporal, mas ainda familiar. Você só permite que alguém entre em você, em seu centro, quando não está com medo, quando não está temeroso. 

Vivendo aqui e agora

     Portanto, eu lhe digo que existem dois tipos de vida. Uma: orientada pelo medo; e a outra: orientada pelo amor. A vida orientada pelo medo não pode nunca levá-lo a um relacionamento mais profundo. Você permanece no medo e não aceita o outro — Não pode aceitar que penetrem em seu âmago mais profundo. Até um determinado ponto, você aceita o outro; além desse ponto, o muro vem e tudo estaciona.  A pessoa orientada pelo amor é uma pessoa religiosa. A pessoa orientada pelo amor é aquela que não tem medo do futuro, aquela que não tem medo dos resultados e consequências — aquela que vive aqui e agora.  Isto é o que Krishna diz a Arjuna no Gita: Não se preocupe com os resultados. A mente orientada pelo medo é que é assim. Não pense sobre o que acontecerá depois. Apenas esteja aqui, e aja totalmente. Não planeje. Um homem orientado pelo medo está sempre calculando, planejando, manipulando, salvaguardando-se. Toda sua vida é perdida dessa maneira.  Ouvi falar sobre um velho monge Zen. Ele estava em seu leito de morte. Seu último dia chegou, e ele declarou que depois dessa noite não estaria mais vivo. Assim, seus seguidores, discípulos e amigos começaram a chegar. Ele tinha muitos amantes. Todos eles vieram. Chegaram pessoas de todas as partes.  Um de seus antigos discípulos, quando ouviu que o Mestre estava morrendo, correu para o mercado. Alguém lhe perguntou: O Mestre está morrendo em sua cabana — por que você está indo para o mercado? O discípulo respondeu: Sei que meu Mestre adora um tipo especial de bolo, por isso estou indo comprá-lo.  Era difícil encontrar esse bolo, porque estava fora estação, mas, de algum modo, à noite, ele o conseguiu e voltou correndo com o bolo.  Todo mundo estava preocupado — era como se o Mestre estivesse esperando por alguém. Ele abria os olhos, olhava e fechava-os novamente. Quando o discípulo chegou, ele disse: Que bom, você veio. Onde está o bolo? O discípulo lhe entregou o bolo — e ficou muito feliz do Mestre ter perguntado a respeito.  Já morrendo, o Mestre pegou o bolo em suas mãos, mas elas não estavam tremendo. Ele era muito velho, mas suas mãos não tremiam. Então, alguém falou: Você é tão velho e está quase na hora da morte. Sua última respiração está se aproximando, mas suas mãos não tremem!  O Mestre disse: Eu nunca tremo — porque não tenho nenhum medo. Meu corpo ficou velho, mas ainda sou jovem, e continuarei jovem mesmo quando este corpo se for. Então, ele pegou um pedaço de bolo.  Alguém perguntou: Qual é a sua última mensagem, Mestre? Você nos deixará logo. O que deseja que nós nos lembremos?  O Mestre sorriu e disse: Ah, que bolo delicioso!  Esse é um homem que vive aqui e agora: Que bolo delicioso! Até a morte é irrelevante. O próximo momento não significa nada. Este momento, este bolo é delicioso. Quando você puder estar neste momento, no momento presente, na presença — na plenitude, só então poderá amar.  O amor é um florescimento raro. Acontece apenas algumas vezes. Milhões e milhões de pessoas vivem com uma atitude falsa, pensando que são amantes. Acreditam que amam, mas isto é apenas uma crença.  O amor é um florescimento raro. Algumas vezes, ele acontece. É raro, porque só acontece quando não há nenhum medo; antes disso, nunca. Esse amor significativo só acontece para uma pessoa profundamente espiritual, religiosa. O sexo é possível para todos. A familiaridade é possível para todos. O amor não.  Quando você não tem medo, não tem nada para esconder, pode estar aberto, pode retirar todos os limites. E, então, convidar o outro para penetrá-lo — na sua própria essência.  Lembre-se: se você permitir que alguém o penetre profundamente, o outro também permitirá que você o penetre, porque quando você permite que alguém o penetre, a verdade é criada. Quando você não está com medo, o outro fica corajoso.  Em seu amor, o medo está sempre presente. O marido tem medo da esposa, a esposa tem medo do marido. Os amantes são sempre medrosos. Então não há amor. Há apenas um arranjo — de duas pessoas medrosas dependendo uma da outra, brigando, explorando, manipulando, controlando, dominando, possuindo — isto não é amor.  Se você puder permitir que o amor aconteça, não haverá necessidade de oração, não haverá necessidade de meditação, não haverá necessidade de qualquer igreja ou templo. Se amar, poderá esquecer-se de Deus completamente, porque através do amor tudo acontecerá: a meditação, a oração, Deus. Tudo acontecerá. Isto é o que a Bíblia quer dizer quando fala: Deus é amor. 

O que você tem a perder?

     Mas amar é difícil. O medo tem de ser abandonado. E isto é uma coisa estranha — você ser tão medroso, não tendo nada para perder.  Kabir disse em algum lugar: Olho para dentro das pessoas. Elas são tão medrosas, mas não consigo ver por que — elas não têm nada a perder. Kabir disse: Elas são como alguém que está nu, mas nunca vai tomar banho no rio porque fica com medo de não ter onde secar suas roupas. Esta é a situação na qual você se encontra — nu, sem nenhuma roupa, mas sempre receoso de perder suas roupas. 

      O que você tem a perder? Nada. Seu corpo será levado pela morte. Antes que isto aconteça, dê-o ao amor. Tudo o que você tem lhe será tirado. Antes que tirem, por que não compartilhar? Este é o único meio de possuir. Se você puder compartilhar, dar, será o mestre. Tudo acaba sendo tomado. Não há nada que você possa reter para sempre. A morte destruirá tudo.  Portanto, se você está me acompanhando corretamente, a luta é entre a morte e o amor. Se você puder dar, não haverá nenhuma morte. Antes que qualquer coisa possa lhe ser tirada, já a terá dado, já terá feito dela um presente. E não haverá nenhuma morte.  Para um amante, não existe morte. Para um não-amante, todo momento é uma morte, porque a cada momento alguma coisa lhe é arrebatada. O corpo está desaparecendo — ele está se perdendo a cada momento. E, qualquer hora, a morte chegará, e tudo será aniquilado.  Qual é o medo? Por que você tem tanto medo? Mesmo que tudo seja conhecido a seu respeito e você se torne um livro aberto, por que temer? Como isto o prejudicará? Esses conceitos são falsos, são apenas condicionamentos dados pela sociedade, de que é preciso se esconder, de que é preciso se proteger, de que é preciso estar constantemente em posição de ataque, de que todo o mundo é seu inimigo, de que todo o mundo está contra você.  Ninguém está contra você! Mesmo que você sinta que alguém está, essa pessoa também não está contra você — porque todo o mundo está preocupado apenas consigo mesmo, não com você. Não há o que temer. Isto tem de ser compreendido antes que um relacionamento verdadeiro possa acontecer: não há o que temer.  Medite sobre isso. E então permita que o outro o penetre, convide o outro para penetrá-lo. E não crie nenhuma barreira em nenhum lugar; torne-se uma passagem — sempre aberta, sem fechaduras, sem portas, sem nenhuma porta fechada. E o amor será possível.  Quando dois centros se encontram, há amor. E o amor é um fenômeno alquímico — exatamente como quando o hidrogênio e o oxigênio se encontram e uma coisa nova, a água, é criada. Você pode ter hidrogênio, pode ter oxigênio, mas se estiver sedento, eles serão inúteis. Você pode ter tanto oxigênio quanto queira, tanto oxigênio quanto gostaria, mas a sede não será aplacada. 

    Quando os dois centros se encontram, algo novo é criado — essa coisa nova é o amor. E é exatamente como a água — a sede de muitas e muitas vidas é satisfeita. De repente, você se satisfaz. Esse é o sinal visível do amor, você fica satisfeito, como se estivesse alcançado tudo. Não há mais nada para alcançar. Você encontrou a meta — não existe mais nenhuma outra meta, o destino se preencheu. A semente tornou-se uma flor, chegou ao seu florescimento total.  A satisfação profunda é o sinal visível do amor. Sempre que uma pessoa está amando, fica profundamente satisfeita. O amor não pode ser visto, mas a satisfação, a profunda satisfação ao redor da pessoa, sim. Toda sua respiração, todo seu movimento, seu próprio ser está satisfeito.  É possível que você se surpreenda quando eu digo que o amor faz com que a pessoa fique sem desejos — porque o desejo existe com a insatisfação. Você deseja porque não tem. Deseja porque pensa que se tiver algo, isto lhe dará satisfação. O desejo vem da insatisfação.  Quando há amor e dois centros se encontram, se dissolvem, se fundem, uma nova qualidade alquímica nasce, a satisfação surge. É como se toda a existência parasse — não há movimento algum. O momento presente é único. E você pode dizer: Ah, que bolo delicioso! Até mesmo a morte não significa nada para um homem que está amando. Portanto eu lhe digo, o amor o deixará sem desejos.  Seja corajoso, abandone o medo, seja aberto. Permita que algum centro encontre o seu centro interior, você renascerá através disso, uma nova qualidade de ser será criada.  Essa qualidade de ser dirá: Deus existe. Deus não é um argumento, é um preenchimento, um sentimento de totalidade. Você já deve ter observado que sempre que está descontente, quer negar a Deus. Sempre que está insatisfeito, todo seu ser quer dizer: Não existe nenhum Deus.  O ateísmo não vem da lógica, vem do descontentamento. Você pode racionalizá-lo — isto é outra coisa. Talvez não diga que está descontente e que é por isso que é ateu. Você dirá: Não existe nenhum Deus e tenho provas disso. Mas esta não será a verdade.  Se você estiver satisfeito, de repente, todo seu ser dirá: Deus existe. De repente, sentirá isso! Toda a existência tornar-se-á divina.

    Quando o amor existe, você vive realmente pela primeira vez com o sentimento de que a existência é divina e tudo é uma bênção. Mas muito tem de ser feito antes que isto possa acontecer. Muito tem de ser destruído antes que isto possa acontecer. Você tem de destruir tudo o que cria barreiras em você.  Faça do amor um sadhana (Sadhana é um processo pessoal no qual você acessa o seu melhor). Não permita que ele seja apenas uma coisa frívola. Não permita que ele seja apenas uma ocupação da mente. Não permita que ele seja apenas uma satisfação corporal. Faça dele uma busca interna. E faça do outro um ajudante, um amigo.  Se você ouviu algo sobre o Tantra, sabe que o Tantra diz: Se você puder encontrar uma companheira, uma amiga, mulher ou homem, que esteja pronto para mover-se com você em direção ao centro interior, que esteja pronto para mover-se com você para o mais alto pico de relacionamento, então este relacionamento tornar-se-á meditativo. Através desse relacionamento, você chegará ao relacionamento supremo. O outro será apenas a porta. 

Apaixone-se!

    Deixe-me explicar isto: se você ama uma pessoa, pouco a pouco, a periferia dela desaparece, a forma desaparece. Você fica cada vez mais em contato com a não forma, com o interior. A forma torna-se, pouco a pouco, vaga e desaparece. E se você vai mais fundo, até mesmo essa não-forma individual começa a desaparecer e fundir-se. Então, o além se abre. Esse indivíduo particular era apenas uma porta, uma abertura. E através do ser amado, você encontra o divino.  Por não conseguirmos amar é que precisamos de tantos rituais religiosos. Eles são substitutos, e substitutos muito pobres. Uma Meera não precisa de templo para ir. A existência inteira é seu templo. Ela pode dançar diante de uma árvore e a árvore torna-se Krishna (Krishna é uma deusa personificada do hinduismo, a representante das manifestações de Deus Supremo no mundo, segundo a mitologia hindu). Pode cantar diante de um pássaro e o pássaro torna-se Krishna. Pode criar Krishna ao seu redor em qualquer lugar. Seu amor é tamanho que para qualquer lugar aonde olhe a porta abre-se, E Krishna é revelado, o amado revela-se. 

    Mas o primeiro vislumbre sempre vem através de um indivíduo. É difícil estar em contato com o universal. Ele é tão grande, tão imenso, tão sem começo nem fim. De onde começar? De onde mover-se para ele? O indivíduo é a porta. Ame.  E não faça disso um combate. Faça com que seja uma profunda aceitação do outro, um convite. Permita que o outro o penetre sem qualquer condição. E, de repente, o outro desaparecerá e Deus estará presente. Se o seu amado ou amada não puder tornar-se divino, então nada neste mundo poderá tornar-se divino. Toda sua conversa religiosa será simplesmente absurda.  Esse estado pode acontecer em relação a uma criança. Pode acontecer em relação a um animal, a um cachorro. Se você puder estar num relacionamento profundo com um cachorro, poderá acontecer — o cachorro tornar-se-á divino! Portanto, não é uma questão de relacionar-se apenas com um homem ou uma mulher. Esta é uma das mais profundas fontes do divino, que vem até você naturalmente, mas ela pode acontecer a partir de qualquer ponto. A chave básica é esta — permita que o outro penetre em você, na sua essência mais profunda, no próprio âmago do seu ser.  Mas continuamos iludindo a nós mesmos. Pensamos que amamos. E se você pensa que ama, não há nenhuma possibilidade do amor acontecer — porque se isto for amor, então tudo estará fechado. Faça novos esforços. Tente encontrar no outro o ser que está oculto. Não espere nada de ninguém. Cada indivíduo já está numa tal miséria que se você continuar esperando isto não terá fim.  Ficamos aborrecidos com o outro — porque estamos sempre e sempre na periferia.  Eu li esta estória: Um homem estava muito doente e tentou fazer todos os tipos de tratamentos, mas nada adiantava. Então, ele foi a um hipnotizador que lhe deu um mantra, uma sugestão, para repetir continuamente: 'eu não estou doente'. Durante pelo menos quinze minutos ao amanhecer e à noite, ele dizia: eu não estou doente — estou curado. E o dia todo, sempre que se lembrava, repetia a mesma coisa. Após poucos dias, ele começou a se sentir melhor. E, dentro de semanas, estava completamente bom. 

    Ele disse à sua mulher: Isto foi um milagre! O que você acha de eu ir novamente ao hipnotizador para um outro milagre? É que ultimamente não estou sentindo nenhum apetite sexual, nenhuma vontade de ter relações. Não sinto nenhum desejo.  A esposa ficou feliz. Ela disse: Vá — porque já estava se sentindo frustrada.  O homem foi ao hipnotizador. Ao voltar, sua mulher perguntou: Qual foi o mantra, qual a sugestão que ele lhe deu agora? Mas o homem não pôde contar a ela. Em poucas semanas, seu apetite sexual começou a voltar. Ele começou a sentir desejo novamente. Sua esposa ficou muito intrigada. E sempre insistia em perguntar, mas o homem ria e nunca dizia nada. Um dia, pela manhã, quando ele estava no banheiro, fazendo sua meditação, seus quinze minutos de mantra, ela procurou ouvir o que ele estava dizendo. Ele estava dizendo: Ela não é minha esposa. Ela não é minha esposa. Ela não é minha esposa. (kkkk) Sempre contamos com a outra pessoa. Alguém se torna sua esposa — e a relação está liquidada. Alguém se torna seu marido — e a relação está acabada. Agora, não há mais nenhuma aventura — o outro tornou-se uma coisa, um objeto. O outro não é mais um mistério a ser buscado. O outro não é mais uma novidade. E lembre-se, tudo acaba morrendo com a idade. A periferia é sempre velha, e o centro é sempre novo. A periferia não pode permanecer nova, porque envelhece, desgasta-se, a cada momento. O centro é sempre fresco e jovem. Sua alma não é uma criança, não é jovem, nem velha. Sua alma é eternamente virgem. Ela não tem idade.  Você pode fazer uma experiência, ver se ela é jovem ou velha: feche seus olhos e procure. Tente sentir como seu centro é — velho? Jovem? Sentirá que o centro não é nenhum dos dois. Ele é sempre novo, nunca envelhece. Por quê? Porque o centro não pertence ao tempo.  No processo do tempo, tudo envelhece. Um homem nasce — e o corpo já começa a envelhecer! Quando dizemos que uma criança tem uma semana, isto significa que uma semana de velhice entrou na criança. A criança já caminhou sete dias em direção à morte; completou sete dias de agonia. Está se movendo para a morte — cedo ou tarde, morrerá. 

     Qualquer coisa que esteja no tempo envelhece. No instante em que entra no tempo, já começa a envelhecer. Seu corpo é velho, sua periferia é velha. Com a periferia, não se pode amar eternamente. Mas o centro é sempre virgem. É eternamente novo. Uma vez que você entra em contato com ele, o amor é uma descoberta a cada momento. Então, a lua de mel nunca termina. Se ela terminar, é porque não era uma lua de mel em absoluto — era apenas um relacionamento familiar. 

Você é sempre responsável

    A última coisa a ser lembrada é: no relacionamento amoroso, você sempre culpa o outro quando algo sai errado. Se algo não está acontecendo como deveria, o outro é o responsável. Isto destrói qualquer possibilidade de crescimento futuro.  Lembre-se: você é sempre o responsável; mude a si mesmo. E abandone todas as qualidades que criam distúrbios. Faça do amor uma autotransformação.  Como eles dizem nos cursos para vendedores: O freguês está sempre certo. Eu gostaria de lhe dizer: No mundo do relacionamento e do amor, você está sempre errado — o outro está sempre certo.  E é assim que os amantes sempre sentem. Quando existe amor, eles sempre sentem: Se as coisas não estão acontecendo como deveriam, é porque alguma coisa está errada comigo. E ambos sentem o mesmo! Então, as coisas crescem, os centros abrem-se, os limites fundem-se.  Mas se você pensar que o outro está errado, estará fechando a si mesmo e ao outro. E o outro também pensará que você está errado, mesmo que você não diga isto, mesmo que esteja sorrindo, e mostrando que não pensa que o outro está errado — o outro perceberá... através dos olhos, dos gestos, do seu rosto. Mesmo que você seja um ator, um grande ator, e possa manipular sua face, seus gestos, de algum modo, o inconsciente estará continuamente enviando sinais: Você está errado. E quando você diz que o outro está errado, o outro começa a sentir que você é que está errado. 

   O relacionamento é destruído nesse abalo. E as pessoas tornam-se fechadas. Quando você diz que uma pessoa está errada, ela começa a se proteger, a se salvaguardar. Então, o fechamento acontece.  Lembre-se sempre: no amor, você está sempre errado. E a possibilidade abrir-se-á. O outro também sentirá o mesmo. Nós criamos o sentimento no outro. Quando os amantes estão próximos, imediatamente os pensamentos saltam de um para o outro. Mesmo que eles não digam nada, e fiquem silenciosos, eles comunicam-se.  A linguagem é para os desamantes, para aqueles que não estão amando. Para os amantes, o silêncio é linguagem suficiente. Sem dizer nada, eles continuam falando.  Quando você sente o amor como sadhana (Sadhana é um processo pessoal no qual você acessa o seu melhor), como disciplina interna, não diz que o outro está errado. Procura descobrir: em algum lugar, alguma coisa deve estar errada comigo — e abandona o erro.  Isto é difícil, porque vai contra o ego. Isto é difícil, porque machuca seu orgulho. Isto é difícil, porque não é um domínio, uma possessão. Você não será mais poderoso pela possessão do outro. Isto destrói o ego — eis porque acaba sendo difícil.  Mas a destruição do ego é o ponto, a meta. Seja de onde for que você aborde o mundo interior — do amor, da meditação, da yoga, da oração — seja qual for o caminho escolhido, a meta é a mesma: a destruição do ego, o abandono do ego.  Através do amor, isto pode ser facilmente feito. E de um modo tão natural! O amor é a religião natural. Qualquer outra coisa será cada vez menos natural. E se você não puder trabalhar através do amor, será difícil trabalhar através de qualquer outra coisa. 

O presente é suficiente

    Não pense muito sobre as vidas anteriores, nem pense muito sobre o futuro. O presente já é suficiente. Não pense que o relacionamento está vindo do passado, ele está vindo do passado,

Ele é uma continuidade — as coisas têm uma continuidade com as vidas passadas. Portanto, não negue o fato, mas não se sinta carregado por isto. Ele continuará no futuro, mas não pense sobre isto. O presente já é demais para ser solucionado. Coma o bolo e diga: Que bolo delicioso! Não pense sobre o passado ou o futuro — eles tomarão conta de si mesmos.  Não é descontínuo. Você teve relacionamentos no passado. Você amou, odiou; fez amizades e inimizades. E isso continua, de um modo conhecido ou desconhecido para você, está sempre aí. Mas, se você começar a remoer a respeito, perderá o momento presente.  Portanto, comporte-se como se não houvesse nenhum passado, e como se não houvesse nenhum futuro. Este momento é tudo o que lhe é dado. Trabalhe a partir dele — como se este momento fosse tudo. Aja como se este momento fosse tudo e trabalhe a partir dele: transforme suas energias em um fenômeno amoroso — neste exato momento.  As pessoas vêm a mim e fazem perguntas; elas querem saber sobre suas vidas passadas. Elas tiveram outras vidas, mas isto é irrelevante. Por que perguntar? O que você irá fazer com o passado? Nada pode ser feito agora. O passado é o passado e não pode ser desfeito. Você não pode mudá-lo. Não pode voltar atrás. Eis porque a natureza, em sua sabedoria, não permite que você se lembre das vidas passadas. Do contrário, você ficaria louco.  Você pode estar amando uma moça. Se, de repente, ficar sabendo que essa moça foi sua mãe em uma vida anterior, as coisas tornar-se-ão muito complicadas. Então o que fazer? Se essa moça foi sua mãe numa vida passada, fazer amor com ela criará sentimento de culpa. Não fazer amor com ela também criará sentimento de culpa, porque você a ama.  É por isso que eu digo que a natureza, em sua sabedoria, nunca lhe permite lembrar-se das suas vidas passadas — a menos que você chegue a um ponto em que isto possa ser permitido. Quando a pessoa se torna tão meditativa que nada a perturba, as portas se abrem e todas as suas vidas passadas surgem diante dela. Este é um mecanismo automático. Algumas vezes, esse mecanismo não funciona. Através de acidentes, algumas crianças nascem capazes de lembrar. Mas suas vidas são destruídas. 

    Uma moça foi trazida até a mim alguns anos atrás. Ela lembrava-se de suas duas vidas anteriores. Tinha apenas treze anos nessa época, mas se você olhasse em seus olhos parecia ter quase setenta — porque ela se lembrava de setenta anos, de duas vidas passadas.  Seu corpo era de treze anos, mas sua mente tinha setenta. Ela não podia brincar com as outras crianças, porque como pode uma mulher de setenta anos brincar com crianças? Ela falava e agia como uma velha. Estava carregada — havia preocupações de todos esses anos em sua mente.  Ela lembrava-se tão perfeitamente que suas duas famílias passadas puderam ser encontradas. Uma estava em Assam; a outra em Madhya Pradesh. E quando ela entrou em contato com as antigas famílias, apegou-se muito a elas e isto se tornou um problema — onde deveria viver?  Eu disse a seus pais: Deixem a menina comigo por três semanas, pelo menos. Farei um esforço para ajudá-la a esquecer-se, porque senão a vida desta garota será uma perversão. Ela não poderá apaixonar-se por ninguém — é tão velha! Sua velhice está ligada à sua memória. Se a extensão da memória é setenta anos, você se sente como se tivesse setenta anos. E ela parecia tão torturada — sua face, seus traços, tudo demonstrava tortura. Ela parecia estar doente em seu centro — inquieta, desconfortável. Tudo parecia estar errado.  Mas os pais tinham prazer com a coisa toda, porque as pessoas se interessavam e os jornais começaram a fazer reportagens. Eles estavam alegres com a coisa toda. Não podiam me ouvir e eu lhes disse: A menina ficará louca. Eles disseram: Faça alguma coisa. Eu lhes disse: Agora, é impossível fazer qualquer coisa. Agora, só a morte a auxiliará.  Você não se lembra, porque seria difícil manejar isso. Mesmo com esta vida, você está fazendo uma confusão tão grande — se muitas vidas fossem lembradas, você ficaria simplesmente louco. Não pense sobre isto. É irrelevante.  O que importa é: esteja aqui e agora, e trabalhe no seu caminho. Se puder trabalhá-lo através do relacionamento, ótimo. Se não puder trabalhar através do relacionamento, trabalhe em sua solidão. Estes são os dois caminhos. Amar significa trabalhar seu caminho através do relacionamento. E meditação: trabalhar em sua solidão. Amor e meditação — estes são os dois caminhos.  Sinta qual é o mais apropriado. Então, coloque toda sua energia nisso, e mova-se nesse caminho.

Osho, do livro: “Meu Caminho - O Caminho das Nuvens Brancas”

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